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O checklist de cirurgia segura é suficiente para gestão de riscos no centro cirúrgico?

Durante uma live, a SOBECC falou sobre os critérios para garantir uma boa gestão de risco no centro cirúrgico.

Nesta live Rafael Bianconi, Membro da diretoria da SOBECC e Enfermeiro do Bloco Paciente Cirúrgico do Hospital Albert Einstein bateu um papo com Fernanda Paulino Fernandes, Gerente de Qualidade e Segurança do Paciente no Hospital Albert Einstein analisando se o checklist de cirurgia segura é suficiente para a gestão de riscos no centro cirúrgico.

Segundo Fernanda, a gestão de risco compreende um processo formado por dois grandes grupos: reativo e proativo. Na gestão reativa, que é mais comum nas instituições de saúde, é feita a identificação de eventos adversos de riscos associados à segurança do paciente por meio de um sistema de notificação. Essas notificações são avaliadas para ações de melhorias que modificam os processos, as rotinas assistenciais e as práticas. Em decorrência disso, melhora o nível de segurança para evitar que esses eventos aconteçam novamente. Já na gestão proativa, que é uma tendência, mas é menos explorada pelas instituições de saúde, é feita a utilização de ferramentas para mapear riscos. Essa forma de gestão traz uma matriz com os principais riscos que devem ser tratados para evitar que se transformem em eventos adversos com danos aos pacientes.

O foco da Gestão de Risco está na melhoria de processos assistenciais, na estrutura e nas atividades de prevenção e de controle daqueles riscos. Na interação com processo tem o fator humano, por exemplo, como é o preparo do colaborador para detectar precocemente riscos para pedir ajuda e para agir proativamente. O desenvolvimento humano também faz parte de uma Gestão de Risco.

Confira as principais dúvidas levantadas na Live e respondidas pela Fernanda:


Quem é o responsável por fazer todo o processo da Gestão de Risco?


A gestão de risco existe em diferentes níveis. Todos os profissionais de saúde têm a responsabilidade de fazer essa gestão. Não há mal algum pedir ajuda, pelo contrário, isso é um mérito. Pode acontecer em um nível individual ou sistêmico em que as organizações precisam ter um fluxo. Cada instituição tem as suas particularidades e devem determinar a centralização de gestão de risco a uma equipe específica para tratar as condições mais críticas que mereçam uma metodologia específica de análise e que dê suporte a instituição para fazer as ações de melhorias locais. Além disso, cada gerência olhando a sua área e estimulando a sua equipe nesse processo. Atualmente temos como premissa a descentralização da qualidade de segurança, pois nunca será suficiente. Eu sou a favor de dividir a responsabilidade para todos os profissionais de saúde.


Checklist de cirurgia segura é uma ferramenta chave para garantir a segurança do paciente. Ele é suficiente por si só para alimentar as informações que são necessárias para a gestão de risco?


Sem dúvida o checklist é uma ferramenta poderosa para a gestão de risco, isso é incontestável. É uma ferramenta poderosa desde que utilizada na metodologia adequada. Ele tem tempo para ser realizado e todo mundo respondendo perguntas que são a respeito de processos críticos ou de possíveis falhas que podem acontecer durante o ato cirúrgico, que se identificados precocemente durante a cirurgia e no checkout são barreiras para evitar alguns tipos de danos ao paciente. O checklist é eficiente, mas não é suficiente sozinho. Precisamos de outras ferramentas que detectem outros riscos. O checklist é uma barreira para garantir o nível de segurança, mas nós precisamos implementar outras estratégias de gestão de risco e zerar qualquer tipo de dano ao paciente.


Tem como aprimorar o checklist para que se torne um uma ferramenta que evidencie riscos proativos para que não voltem a acontecer?

Claro! Sem dúvida! A forma que ele foi desenhado já tem essa questão de proatividade em que eu checo alguns riscos antes da anestesia, antes da infusão. É uma forma de identificar precocemente questões críticas. Aí paro tudo para adequar todos os processos e garantir o cenário mais seguro ao meu paciente a um procedimento cirúrgico que envolvem uma série de riscos. Eu posso estender o checklist para outras realidades. O Safety Huddle, por exemplo, é uma visita de segurança que acontece todos os dias nas instituições de saúde. É uma ferramenta proativa em que converso com a equipe e passo por algumas questões que eles podem me falar de situações de riscos ou preocupações que devem ser endereçadas para um tratamento em tempo real e minimizar os riscos para a equipe assistencial e para o paciente.

Por que a gente não cria essa rotina de todo evento barrado pela chave se torne uma notificação que vá para a gestão de risco?

Nós temos uma preocupação muito intensa com aquilo que pode dar errado e com o que dá errado, mas a experiência enquanto profissional saúde mostra que um grande percentual de nossas atividades dá muito certo. Muitos pacientes saem recuperados de uma instituição de saúde. Às vezes nós ficamos muito focados em aprender com as falhas ou identificar precocemente riscos e modificar processos e há pouca valorização daquilo que funcionou. Daí veio a ideia de a gente incluir no Safety Huddle a pergunta: ‘Algum case de sucesso?’ O que você faz que dá certo na sua área que a gente precisa comunicar para outras pessoas usufruírem desse método para transformar também criarem inúmeros casos de sucesso. São iniciativas que promovem engajamento.

Qual é a adesão dos profissionais tanto ao checklist quanto ao sistema de notificação? Qual é a relação com a cultura de segurança e a percepção de risco?

Eu acredito que as pessoas são engajadas pelos seus propósitos e não há dúvida que todo profissional de saúde tem o mesmo propósito que é salvar vidas, de doar o seu melhor conhecimento, sua melhor prática para o restabelecimento do paciente. Não há dúvida sobre isso. E o que faz um ou outro ser mais engajado por questões de segurança é se aquela instituição consegue traduzir isso em ação. Se aquela instituição consegue mostrar para os colaboradores o ganho com aquela ferramenta. Mostrar quantos eventos a gente evitou com o checklist aplicado de forma adequada. Se tem estratégias de reconhecimento daquele profissional que naquela dificuldade do centro cirúrgico toma a frente. Envolver os cirurgiões nisso é mostrar para eles os resultados. Qualquer profissional de saúde gosta de entender o porquê dessas questões.

Qual é a função da Tríade?

A tríade é um nome importado. São três profissionais da área assistencial discutindo constantemente a questão de segurança, geralmente a liderança da área, um representante médico da área e um colaborador da equipe multidisciplinar, seja enfermagem, nutricionista, fonoaudiólogo, farmacêutico, qualquer profissional multidisciplinar não médico. São referências de qualidade de segurança. A função da tríade é identificar os riscos em idosos de eventos de menor gravidade. Os eventos que causam danos grave ao paciente é analisado por uma equipe especialista de qualidade de segurança. Os demais eventos e riscos, que é o grande volume é um estímulo que essa Tríade faça análise, compartilhe com a equipe e explore as ações de melhoria. Também é designado a tríade a necessidade de fazer o Safety Huddle locais e permear as questões que devem ser escalonadas para gerência e direção. E o foco são melhorias nos processos, mostrando esses resultados local e institucionalmente.

Qual é a importância do mapeamento dos riscos proativos para o bloco operatório?

Eu acredito muito no mapeamento proativo porque o checklist, por exemplo, é uma ferramenta de gestão de risco, mas ele não consegue contemplar toda a complexidade de um bloco operatório. E por meio de uma ferramenta nós conseguimos mapear, seja a área do centro cirúrgico como um todo ou algum processo crítico que vem mostrando riscos que se não tratados. Isso permite sentar com a equipe e debater quais são esses riscos, qual é a frequência que eles acontecem, qual é a gravidade caso esse risco venha acontecer e por meio de uma matriz nós priorizamos aquilo que precisamos dar foco e mudar o processo, rotina e prática para evitar que amanhã um paciente sofra um dano por algo que estava latente no meu sistema, sendo identificado ou não e que eu poderia ter trabalhado antes. Sem dúvida a gestão e uso de ferramentas proativas fazem necessário e é uma tendência.


http://www.sobecc.org.br/artigo/segundo-texto


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