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Foto do escritorMonteggia

As múltiplas faces da engenharia clínica



Dentro de uma unidade hospitalar, o departamento de engenharia clínica é considerado um dos mais estratégicos e essenciais sob ponto de vista da segurança do paciente, otimização de recursos e inovação tecnológica. Embora os pacientes tampouco saibam da existência de uma área específica para garantir a rastreabilidade e o desempenho dos equipamentos nos hospitais, a Engenharia Clínica ganha cada vez mais espaço. Os avanços tecnológicos, com a ascensão da inteligência artificial e internet das coisas (IoT), vem posicionando a área a assumir um papel mais gerencial e de tomada de decisões. 


Ela atua em várias frentes, sendo a principal delas conduzir o gerenciamento dos equipamentos de saúde, garantindo sua rastreabilidade, bom desempenho e, consequentemente, a segurança dos pacientes. Faz parte desse escopo coordenar equipes técnicas, gerenciar riscos, investigar acidentes, analisar indicadores e proporcionar melhorias para tornar a operação efetiva e com tempo de parada mínimo na prestação do serviço. 

“A inovação tecnológica e aplicabilidade da inteligência artificial e da internet das coisas no setor de saúde e ambiente hospitalar prometem uma grande evolução na área de equipamentos eletromédicos”, garante Alexandre Ferreli, presidente da Associação Brasileira de Engenharia Clínica (ABECLIN). Segundo ele, hoje já existem sistemas de localização inteligente de equipamentos e vários projetos que fazem autodiagnóstico de eventuais problemas e direcionam as informações para um sistema de inteligência artificial responsável pela manutenção preditiva. 


Tais avanços tendem a aumentar o desempenho operacional das equipes de engenharia clínica, cujos responsáveis participam desde o processo de aquisição para obter a melhor tecnologia e com o menor custo, até garantir os requisitos necessários para instalação e acompanhamento de processos de manutenção, calibração, treinamento e descarte - quando aplicável. 

“Há vários casos de sucesso de departamentos de engenharia clínica. Por meio da análise estatística e ação imediata, vidas acabam sendo salvas direta ou indiretamente. Acompanhamos hospitais de grande porte que tiveram resultados expressivos antes e depois da estruturação da área internamente”, afirma Ferreli.


Em um deles, segundo o presidente, a média de eletrocardiógrafos quebrados por dia era de 8 a 10 unidades. A partir de apuração interna verificou-se que o problema era mau uso e erro humano ocasionado pelos operadores. Como solução, foi desenvolvido um treinamento que reduziu o índice de quebras para uma unidade por mês, gerando economia para o hospital e disponibilidade da tecnologia para os pacientes. 

Em outra unidade hospitalar, a ressonância magnética apresentava falhas contínuas que resultavam tanto em perdas de receita como em insatisfação dos pacientes. A equipe de engenharia clínica analisou os dados e verificou que 38% dos motivos de parada eram causados por falhas de estrutura, que somavam,  em média, 12 horas por mês. A partir da instalação de sensores, sistema de supervisão e planejamento de atendimento, o índice de máquina parada caiu de 12h para 3h, proporcionando ganho de 9h de atividade do equipamento. No entanto, segundo Ferreli, “o grande desafio dessa área é mostrar aos gestores que a medicina é dependente de tecnologia e sem uma boa gestão o serviço de saúde tem prejuízo ou lucros menores”.


Nos primórdios

O berço da engenharia clínica é nos Estados Unidos. As primeiras demandas surgiram após a Segunda Guerra Mundial, quando os equipamentos de eletrônica médica, como ultrassons e tomógrafos, começaram a ser introduzidos em larga escala nos ambientes hospitalares. Na década de 1960 e 1970, o aumento dos custos em saúde em decorrência do uso cada vez maior da tecnologia impulsionou os engenheiros de manutenção a auxiliar os médicos por meio de fornecimento de tecnologia e automação para otimizar processos. Além disso, boatos que denunciavam mortes por conta de choques elétricos relacionados a equipamentos médicos mobilizaram governo e engenheiros sobre a importância da criação de normatizações para exigir qualidade dos fabricantes e garantir segurança aos usuários. 


No Brasil, o gerenciamento de tecnologias em estabelecimentos de saúde foi instituído pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (ANVISA) por meio da resolução RDC Nº2, em 2010.

“O grande motivador da presença da engenharia clínica nos serviços de saúde foi a expansão do processo de acreditação”, explica Ferreli. Além disso, já desde a década de 1990 começaram a surgir os primeiros cursos de especialização e havia grande preocupação em dar vazão a 20% do parque tecnológico, que estava parado e representava cerca de R$ 1 bilhão em prejuízos no setor de saúde.

Segundo Ferreli, a RDC nº 2 da ANVISA contribuiu ao oferecer aos serviços de saúde um roteiro para iniciar seus departamentos de engenharia clínica, assim como a norma da ABNT 15943:2011, que traz diretrizes para um programa de gerenciamento de equipamentos para a saúde. “De nossa parte, participamos ativamente para auxiliar nossos associados na montagem de equipe, compra de ferramentas, equipamentos de teste e orientação sobre o serviço”, conclui.

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